quinta-feira, 15 de novembro de 2012

OS DOIS PEREGRINOS

Dois peregrinos se encontraram na curva do caminho. Um desejava escalar o monte, o outro ia para o vale. Como eram velhos amigos, e havia muito tempo que não se viam, pararam para repousar e conversar. Perguntou o do vale: — Que fazes tu, amigo? — Dirijo-me para o monte. — Mas que pretendes tu no monte? — Quero iniciar-me lá. Lá aprenderei como conseguir que os tigres venham buscar minhas carícias, quais se fossem gatos. Lá desenvolverei poderes para abandonar meu corpo e regressar a ele, à vontade, para realizar milagres e manipular as forças íntimas da matéria. E tu, amigo, para onde vais? — Dirijo-me para o vale — respondeu o outro. — Mas que queres tu no vale? — Lá aprenderei a dominar os tigres que se agitam dentro de mim. Adquirirei o poder de abandonar a velha “casca” do homem velho, de uma vez para sempre, não mais devendo regressar a ela. Lá existem multidões famintas junto das quais buscarei os milagres que só o amor realiza. Lá, em contato com as grandezas e misérias do próximo, encontrarei minhas próprias misérias e grandezas e aprenderei a dar sentido cósmico às forças íntimas do próprio ser. A ti leitor, eu te pergunto: Quem era o verdadeiro candidato à iniciação? O do monte que buscava a solidão exterior e pretendia os poderes que o tornavam escravo de Maya? Ou do vale, que nas vastas e profundas solidões de si mesmo, aprenderia a ser solidário com os homens? Iniciação não se realiza de fora para dentro, busca-se de dentro para fora. Não vem de um conjunto de atos cerimoniais, mas de firmeza de uma única e sincera atitude espiritual. Oh! Senhor, quando aprenderemos que não estás nos picos dos montes ou na solidão dos mosteiros? Quando te buscaremos, afinal, dentro de nós e em qualquer parte? Huberto Rohden

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